terça-feira, 6 de abril de 2010

Manaus - Parte primeira

Deixei-vos na fronteira entre a Venezuela e o Brasil. Na fronteira o primeiro contraste, de um lado a policia militar Venezuelana com a sua exagerada arrogância a sua cara que não séria mas apenas zangada com o mundo ou apenas com a sua deslocação do mundo ali naquele lugar completamente isolado. A policia com o seu interminável revisar de mochilas até ao mais pequeno pormenor e a acusação continua de alguma coisa que eu sem culpa alguma senão a da minha mente, a responder com medo que nem eu sei de quê. Do outro, do lado Brasileiro já foi a verdadeira alegria:

- Português? Portugau é show de bola!!!!

E a fila para os carimbos que parecia uma mistura de missa e festa de samba, com a alegria geral a pairar no ar misturada com dois ou três terços e a salvação de almas. Crentes.
Táxi de uns meros vinte reais até à cidade de Boa Vista, umas três horas de viagem e o preço exageradamente baixo a ser explicado pelo tráfico da gasolina que ali no país mais a norte custa umas cem vezes menos. Boa Vista foi espera de duas horas e logo um ônibus que atravessa a selva durante a noite até Manaus. Não há tempo para conhecer uma cidade que nada tem a conhecer que tempo existe com fartura mas de facto a não ser as gentes do mais isolado possível não me consigo interessar por mais nada e logo o arrependimento que as gentes são e sempre foram toda a razão desta viagem.
Chegada a Manaus pelas sete da matina e ônibus até ao centro da cidade onde com a ajuda do meu guia de viagem logo consigo estadia num hostel cor-de-rosa para mochileiros. Como eu. O dia estava ainda no seu inicio, por isso depois do tradicional check-in lá começo uma volta a pé pela baixa da cidade. A surpresa é logo o primeiro sentimento que se chega a ser sentimento é apenas por ser precoce. As docas enchiam-se de pequenas barracas com pequenos vermelhos toldos que de tudo vendiam. Principalmente a tradicional globalização dos produtos chineses. Que tristeza ver em tal cidade, quase perdida do mundo apenas o resultado dessa merda que é a globalização. Ou não. Lá mais perto do rio algo mais bonito, os mercados de peixe e fruta e carne e legumes e tudo o que oferece a natureza. E eu ainda sem ainda sentir senão o húmido calor da selva que já não selva mas apenas uma cidade com dois milhões de habitantes e impostos baixos a convidar Sony e Samsung e tantas outras companhias que ali se instalaram. Foi o regresso da grandeza de tal cidade que começou com a borracha que nos anos vinte logo se transferiu para a Tailândia e deixou uma cidade construída, cheia de riquezas quase ao abandono. Os edifícios provavam a história da borracha com ainda a sua arquitectura do século XIX, e o Teatro Amazonas com todo o seu mais pequeno pedaço de material vindo da Europa, das suas pinturas aos seus pilares, dos seus quadros ao mármore português, exageros de riquezas exageradas de séculos passados. A cidade quase na sua totalidade a ser reconstruída com a promessa de um campeonato do mundo em meia dúzia de anos. Como é engraçada a história, como é desprezada e logo rezada. E como tudo isso fez com que se erga uma esplêndida e industrial cidade no meio de tal e quase inóspito lugar. E os milhões de árvores abatidas e animais mortos e logo a tristeza da destruição que não para. É a ganância que nunca para e nunca irá parar até que o mundo se torne num enorme deserto desprovido de qualquer vida. Não existe humilde sentimento humano que o impeça e de isso estou plenamente convencido! Nada para a ganância senão alguns poetas que rezaram e continuam a rezar a verdadeira filosofia da vida. E esses de poucos sabem que nada vale a pena fazer. Que tristeza a minha de desistir de algo maior. Que tristeza a minha da minha realidade. O verde da esperança cai à mesma velocidade com que cai o verde da floresta. Com estes pensamentos percorri a cidade durante um dia inteiro, sem rumo algum, apenas com a vista cheia de tudo o que é o nada das cidades.
Chegado ao Hostel conheço um Israelita que depois de dois anos a servir com honra o seu país (controlo-me para não me rir do ridículo desta ultima frase) decidiu meter a mochila às costas e percorrer a América do Sul. Férias de algo suponho e que algo penso para mim. Simpático e animado. A conversa que inconscientemente tento puxar para tal conflito lá no médio oriente é quase sempre a escutar que não tenho coragem de expressar opiniões, não com alguém que culpa tem apenas a do patriotismo estúpido que todos nós tanto exibimos. Que coisa ridícula essa do patriotismo. Que guerra tão estúpida, que só por ser guerra já não precisa de ser continuada com o apelido de estúpida. Fala-se de metralhadoras e vigilâncias no muro e eu sem ouvir que não consigo ouvir destas coisas. Lá se mudou de tema para o convidar a uma saída com uma amiga que ainda em Caracas tinha feito a partir do couch-surfing (um ideal bonito este do “surf do sofá”). Ele que com a minha companhia apenas estava aceitou de imediato e depois de jantar e banho tomado lá apareceu a Luciana para nos levar a uma festa que segundo a mesma seria de cerveja à borla até à meia-noite. Escusado será dizer a excitação que levávamos. Noite com miúdas e cerveja à pala não é todos os dias como de certo todos me podem compreender. A noite nada de especial teve senão um bom cover de um bom rock entre os setenta e os dias de hoje, regado com boa cerveja e boa conversa. Boa gente como todos e como sempre.
O dia seguinte foi de mais caminhadas pela cidade, na companhia do Dan, o tal israelita e soldado que como iria a descobrir seria apenas um entre as centenas de mochileiros e antigos soldados, todos mais novos do que eu e todos já com dois anos da estúpida guerra em cima. Consegui ainda aumentar o meu estereótipo da sovinice dos judeus quando passei quatro horas a caminhar e procurar vendedores de bilhetes dos barcos com direcção a Belém do Pará para que no fim o Dan poupasse 10 reais (4 euros). Nesse mesmo dia e depois do relato estonteante do Dan sobre o interior da selva reservei um lugar numa excursão de duas noites e três dias para o interior da selva. Devido ao preço exagerado de tal expedição, esta estava fora dos meus planos mas seria como ir a Roma e não ver o Papa se bem que por aqui não iria que no Papa não tenho absolutamente interesse nenhum senão o da crítica sempre que este vem com uma nova bacorada sobre o que nada percebe. Uso como expressão que de expressões gosto eu. E bastante!

Lá marquei eu uma viagem que foi sem dúvida das coisas mais fascinantes que fiz/vi nada vida. A selva Amazónica!


Teatro Amazonas

Teatro Amazonas


Catedral de Manaus

Docas
Museu de Navegação

Rio Negro

Docas
Gil, Dan, Luciana, Vanessa e Vocalista da banda cover

Porto de navios pequenos

Especiarias no mercado do peixe

Mercado do Peixe

Mercado da Fruta




Mercado dos Indios


Mercado dos Indios

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