segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Rock 'n' Roll

Este fim-de-semana apareceu de surpresa, mostrando de facto como em surpresa se tem momentos únicos. Tudo começou a meio da tarde da última sexta-feira dia 25 de Setembro do calendário de Cristo, quando estando eu a descansar um pouco as pernas, recebo o convite para um passeio por um normal centro comercial com uma prima e a prima dessa prima. Como me dizem que o centro comercial é o tal que tem no seu último piso o Hard Rock Café – Caracas, o convite foi aceite de imediato já que existem lugares que merecem sempre uma visita. Já ali tinha estado por duas vezes durante o mês de Agosto e embora não fosse um lugar de encantos exagerados, a música é boa e o ambiente descontraído.

Depois de passear um pouco à deriva por algumas superficiais lojas, decido que as vistas não são do meu agrado e sozinho subo ao último piso para uma cerveja revigorante e meia dúzia de cigarros filosóficos. Estava eu nesta vida, completamente perdido em tuta-e-meia de pensamentos para vos ser sincero (como quase sempre – não fosse eu sincero), quando na cadeira do meu lado direito e disposta de frente para o balcão de tal bar se senta uma rapariga de piercing no nariz, cabelo pelo meio das costas, seios extravagantes e fato formal. Eu, perdido em pensamentos pouca importância lhe dei até que ao pedir pela quarta vez o isqueiro ao barman residente, a tal rapariga curiosa com o meu sotaque me pergunta de onde sou. Foram as primeiras de muitas palavras partilhadas ao longo daquelas duas horas nas quais tive uma daquelas conversas ditas como interessantes. O tema predominante foi a música de estilo rock, não obrigasse exactamente a isso o lugar onde nos encontravamos. De seu nome quase cinematográfico – Scarlet e estilo demasiado formal lá fomos variando entre o espanhol e o inglês por variados temas sobre este variado mundo que é o nosso. Acabou-se a conversa, que pelo meio foi fugazmente interrompida por um concerto amador que por ali começou, com um até amanhã e troca de contactos. Estava feito o convite para assistir a uma série de concertos na Plaza Altamira que iriam acontecer no dia seguinte. O resto desse dia foi apenas a acabar comigo meio embriagado num normal club de Caracas, ao som de merengue e salsa e na companhia de mais um primo de meus primos – o interesse é demasiado pouco para estar em descrições mais pormenorizadas, não fossem todos os club’s, ditos como modernos, iguais em toda a parte deste nosso pequeno mundo.

O amanhecer do dia seguinte foi tardio derivado da tal noite em estados mais desafogados. A tarde foi passada atrás do balcão de El Canário, a afamada arepera onde vou trabalhando. Saí às oito, não em ponto que a boleia esperava e encaminhei-me então para essa praça em Altamira e que tanto eu confundia com Altavista – é o meu espanhol demasiado traduzido penso eu com os meus botões. Na fonte que determina o centro de alguma coisa e homenageia outro dos grandes libertadores de um normal país colonizado passo a mensagem à tal rapariga quase cinematográfica do dia anterior com as palavras de que aí já me encontrava. Desencontros normais e lá vejo eu a dita. Os trajes do fim de tarde anterior nada tinham a ver com os que ela vestia na altura. De formais e obrigatórios a qualquer secretária passaram para mínimos e loucos como obrigatórios a qualquer Rockeira que se preze. Sapatilhas de ponta branca e atacadores floridos, minissaia de padrão axadrezado que tinha em si cores como o verde, o vermelho e o preto. Cinto negro com brilhantes a conjugar com a curta camisola de mangas cavadas (adoro esta palavra), simples e preta. Estava visto o bonito estilo da bonita miúda. Eu mal me sentiria senão Rockeiro por amor fosse e trajes à moda da noite vestisse. As botas tiradas de um qualquer filme americano dos anos setenta, as calças de uma qualquer parada alternativa e justas de cima abaixo, a camisa axadrezada e preta e vermelha e claro, o tal cinto tão característico de gentes desta banda.

Os concertos dessa tarde estavam no seu término sendo apenas uma mão de temas as que ainda consegui assistir. Daí a proposta de mais grupos de puro metal que depois de duas carruagens de metro e meia dúzia de estações lá foram encontrados. Estávamos no centro da cidade (eu e a Rockeira), onde segundo ela caminhar teria de ser em passo rápido, alargado e sem olhar para trás, parar nunca e a atenção sempre multiplicada várias vezes. Sem sobressaltos lá encontramos a cova onde se iria passar uma mão cheia de concertos de “puro metal”. As gentes que se faziam ver no bar não ficavam nada atrás das suas (santa ignorância dos rótulos) famas. Cabelos pelo meio das costas, fossem eles femininos ou masculinos. Botas enfeitadas com puro alumínio e de dimensões exageradas, calças negras para combinar ou com a casaca de cabedal negra ou com a t-shirt dos Sepultura, Slipknot, Mettalica, The Korn e demais grupos Hard-rock. Cerveja aos pares que éramos dois e depois de meia conversa lá começaram a tocar as tais bandas de garagem. A primeira constituída por apenas dois elementos que à vez iam trocando entre a guitarra e a bateria. Só instrumental que as vozes não dariam para muito mais, mas com uma qualidade elevada para dois só elementos de tenra idade. Umas cinco músicas deram para encher o ouvido e levar a pouca audiência ao rubro. Estava aberto o espírito para uma boa noite de música. O segundo grupo era já maior, com duas guitarras, um baixo, uma baterista (loura, lindíssima e doida varrida) e um vocalista que depois de vários problemas áudio lá conseguiram tocar mais uma mão de canções originais e em bom ritmo, grande algazarra e loucura total dos transeuntes. Deu ainda para rir com um bêbado que bêbado em demasia ou se espatifava no chão para uma boa soneca ou dançava (que não era dança) aos murros a toda a gente.

Já chegava de música mais dura e fica decidido entre mim e a Rockeira abalar para um novo lugar. Dizia-me ela que um Pub pequeno, de ambiente agradável e Rock mais comercial. Eu, de gostos musicais mais variados preferi logo aquele lugar, não fosse o meu Rock um pouco mais light. Lá encontramos um táxi pelo meio de maiores sobressaltos para em quinze minutos chegarmos ao tal Pub. Estávamos de volta a Altamira (porra para a Altavista) onde a praça estava invadida por casais sentados nos bancos espalhados pelo parque, na relva que pintava algumas zonas ou apenas em pé, apenas. Bêbados viam-se alguns não fosse esta uma capital em pleno sábado à noite (sempre me deram curiosidade os bêbados nas praças das capitais ao sábado à noite). Táxis, autocarros, alguma policia (esta zona é dita como “mais segura”), grupos de pares de pernas em salto alto, na direcção de algum lugar de Rumba, grupos de pernas de salto altos, parados apenas, na direcção de olhares e esperanças em Bolívares, garrafas pelo chão quase de estilo Botellón, maços de cigarros, milhares de beatas e a prova do arrogante desprezo pelo habitat destas gentes (não será arrogante desprezo um pleonasmo?). Descemos uma perpendicular, cruzamos a mesma, atravessamos uma paralela e num cantinho com dois carros estacionados a esconder a porta mas não a luz néon vermelha e verde lá estava o Pub que o nome era de uma cidade britânica e não me recordo do mesmo.

Entramos. O Pub era escuro, não em demasia mas muito escuro, quase negro, três mesas apenas chegavam para cobrir a parede lateral, um poste forrado a madeira, como todas as paredes aliás, mesmo a meio do bar. O balcão corrido na outra lateral do bar que não sei se quadrado se paralelepípedo, pequeno apenas, pequeníssimo aliás – Lindo! Caminhar era difícil tal o empacotamento das poucas gentes ali estacionadas, falar mais difícil era devido à nada exagerada música em berros, harmoniosa, invasora de almas, de espíritos ou então apenas a acompanhar o estado de espírito. As paredes do bar forradas a vidro com pequenas estantes de madeira tão normais e cheias de garrafas de rum, whisky, vodka e pouca mais variedade é certo mas quem precisará de mais no entanto. Cerveja gelada a partilhar pelos dois que as contas eram feitas com o táxi de regresso na cabeça e danças. Dançamos até ficarmos cansados, até doer as pernas, até doer os pés, até doer a bexiga a abarrotar do filtrado da cerveja, até acharmos que era tempo de um pouco de ar e meia dúzia de passos seguidos para sentar o rabo numa normal paragem de autocarro. E voltamos finalmente para dançar mais, ouvir mais, falar mais, gritar mais, conhecer mais e apenas ficar satisfeito (não fosse o alivio a melhor sensação que pode ter o Homem). A música de Rock passou pelo império britânico, states, pela Alemanha, passou pelo México e a Venezuela, o Brasil e a Argentina, a Colômbia e o Chile e passou do inglês para o espanhol e no espanhol ficou que nós os dois (eu e a Rockeira) satisfeitos estávamos e a decisão já com hora tardia foi de partilhar um táxi e regressar a casa de um e de outro, primeiro à minha e depois à dela – Foi uma noite do catano e mais uma amiga a ficar!

Há coisas do caralho!

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