quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A caça

Sou bom ou muito bom em tudo o que faço. PONTO. Os meus senhores pensam que isto é pura arrogância da minha pessoa. Eu sabendo isso vos digo:

- Vocês são uns idiotas!

De uma maneira não mais humilde mas sim menos arrogante vos digo que sou bom ou muito bom em tudo o que faço. Vocês podem facilmente refutar esta afirmação se eu não vos tirasse tal trabalho à partida. O que é bom ou mau? O que é muito bom ou apenas razoavelmente bom? Para mim isso depende apenas do termo de comparação – para com quem ou para algo. Eu tomando isto como pressuposto vos digo que sou bom ou muito bom em tudo o que faço. O único termo de comparação que tomo é apenas o que interessa e pondo em palavras – Eu mesmo (reparem no eu de E maiúsculo).

Tomando estas palavras como inicio vos digo:

- Eu fui à caça e não sou bom ou muito bom naquilo que fiz durante essa caçada. PONTO.

Embora o poder de ter uma arma de fogo na mão e disparar a mesma me eleve ainda mais o meu ego, me faça sentir a força mais poderosa do mundo (qual deus qual o quê), eu via-me desgraçadinho para acertar nos ainda mais desgraçados coelhos. Matei dois e falhei seis, para matar dois precisei de quatro tiros, para falhar seis precisei de doze e mais precisaria se a espingarda não fosse de apenas dois tiros – carrega-la dá tempo aos ditos para se escapulirem.

Chegados da Gran Sabana o meu tio Victor nos disse:

- Vamos à caça!

E nós fomos.

Duas horas e meia de viagem até um lugar qualquer perdido no meio de campos de milho a perder de vista (desta qualquer nome de qualquer sitio não será mencionado pelo simples motivo de não ter prestado qualquer atenção a nomes), chegamos a um lugar a que o meu tio chamou de rancho mas mais não era do que quatro paredes com tecto de chapa. Chapa esse que de contínua formava género de um telheiro onde já estavam penduradas umas quantas redes e onde penduramos as nossas para pernoitar a única noite que iríamos ficar por ali.

Chegamos e fomos recebidos por um banquete! Os meus caros se vissem o banquete decerto pensariam que estou louco tal a duvidosa origem da comida ou o seu estranho aspecto mas, eu de novo vos digo:

- Fomos recebidos por um banquete!

Aquelas HÚMILDES gentes deram-nos a comer o melhor que tinham, um tacho com javali frito, preto de queimado e salgado de sabor, forte como um touro e que a mim me soube como das melhores coisas que o meu paladar já experimentou. Outro tacho de arroz branco – assim só; e outro tacho ainda com javali estufado com ervilhas, cenouras e um molho simplesmente divinal. Enchi o prato, abri uma cerveja, sentei-me na rede e comi deliciado com o sabor daquele momento.

Sentado a comer tinha a visão de, e passo a descrever: Um charco de merda de porco onde os mesmo estavam deitados a tentar o refresco para tanto calor; uma cerca de arame farpado que fazia de fronteira a nada; um bezerro amarrado a uma árvore e a tentar a sombra impossível àquele sol; uma dúzia de cães de caça com o mesmo número de ossos de um qualquer cão mas com a relevância de estes terem apenas pele a cobrir os ditos; pintos e galinhas a cagar tudo – inclusive as minhas botas; tudo aquilo que uma quinta tem mas dividindo pela razão de pobreza de tal lugar. Eu estava nas minhas quintas, os donos (um senhor na sua média idade e uma esposa no seu máximo peso) conversavam e davam estridentes risadas – estão tranquilos.

Almoço regado com cervejinha trazida nas nossas cómodas arcas de topo, descanso a pensar na longa noite e eis que os caçadores vestido a rigor se montam em cima da camioneta para serem uns machos valentes. Ao fim da tarde a caça foi à perdiz que com a vegetação alta e típica da época das chuvas pouco se fizeram mostrar. Deu para dar meia dúzia de tiros e trazer umas cinco como petisco.

Regresso às nossas redes e novo descanso, este mais curto.

Já a noite ia alta, saímos de novo montados em cima da camioneta para em silêncio, a velocidades baixas e com focos de alta potência a iluminar o caminho, percorrermos os longos caminhos em terra daqueles hectares e hectares de milho.

- Olha ali um, olha ali um!

E de pronto o que segurava a espingarda, que rodava depois de uma matança, lá a punha a modos de jeito, cara no cano e PUMBA – MESMO NAS “NALGAS”! Ou na cabeça que era a maneira mais desejada. Lá dava o coelho três saltos no ar, duas voltas na terra e um de nós em salto da camioneta apanhava o troféu da masculinidade.

Foi assim até às quatro da matina, e nós, já satisfeitos dos coelhos, começamos a tomar atenção aos veados que cabrões não se fizeram mostrar nessa noite! Pelo meio ainda caçamos um crocodilo – SIM, um crocodilo, dos pequenos mas que deu para arregalar o olho e levar a excitação a quase orgasmos! Os dois locais que nos acompanhavam com olhos de águia, lá viram no meio de um charco um par de olhos azulados a brilhar à luz do foco. Paramos, mudança de calibre e o Joel com pinta, olho e mira deu-lhe um tiro mesmo na cabeça. Foi ver o gajo a boiar no charco. Com um pau lá puxámos o dito para terra firme e depois as fotos que vêm aqui em baixo.

A conclusão da caçada foi: 5 perdizes, 25 coelhos e 1 crocodilo.

Tiros de sobra e a mim que sempre fui caçador de galinheiro continuo a preferir matar para comer, pegar na faca e matar o meu almoço. Caçar por desporto e portanto em demasia parece-me exagerado e desproporcionado. Quanto aos tiros – bem, esses dão realmente um sentimento que vou desprezar ao máximo por ser demasiado poderoso.

Dormida e no dia seguinte ainda deu tempo para disparar a 9 mm e um chumbo raso na espingarda que dava cá um coice não muito fácil de segurar. Os alvos confirmaram a minha falta de pontaria e a certeza de que a caça não é para mim. Ficaram as memórias para recordar e as fotos para não esquecer.

xixizinho

A foto de praxe

No fim à que esfolar os gajos

O crocodilo e o seu assassino

o meu primeiro coelho




Leo

Cara até tenho. falta o resto

Joel e amigos

Manjar de deuses

Cascavel



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